quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Exposição de Letícia Parente - Grupo 5 - O limite invisível da arte

Leticia Parente, uma das pioneiras da vídeo-arte brasileira tem uma obra rica, que aborda desde o regionalismo nordestino até a luta contra a ditadura, passando pelo feminismo e temas familiares, utilizando sempre objetos, atos do cotidiano e ciência. As várias faces da obra dessa artista podem ser vistas até dia 04 de setembro no Oi Futuro Flamengo.

Analisando a obra de uma forma mais objetiva, cada um de seus videos representa diferentes discussões sobre limites na arte, no corpo e na sociedade.

O seu trabalho mais reconhecido, “Made in Brazil”, retrata sua luta incansável contra o neocolonialismo cultural e mais uma vez contra a ditadura. Leticia costura na própria planta do pé a frase Made in Brazil, querendo mostrar que ela é produto brasileiro, mais ainda, ressalta a importância de olhar a produção nacional e não só valorizar o que vem de fora.

Em ‘’Preparação I’’, vê-se uma crítica à censura da Ditadura e a repressão ao feminismo, já que a artista tampa olhos e boca com esparadrapos para manter apenas dentro de si seus sentimentos e opiniões, mostrando para o mundo apenas o que querem que ela seja: um modelo de mulher que aceita o sistema e mantém os padrões de beleza sem questionamentos. É como se ela se escondesse atrás da maquiagem, como se se trancasse dentro de si o ser que pensa e produz, o ser cuja postura ela precisa esconder do mundo.

Na obra “Tarefa I”, ela está no papel de patroa e deita na tábua de passar, sendo literalmente passada pela empregada doméstica. Esse vídeo inverte tanto a relação de patroa e empregada, como a relação entre ser e objeto, Letícia se coloca uma roupa assumindo o papel passivo de simples objeto.

Como aspecto mais geral e marcante das obras de Letícia Parente tem-se a relação entre casa e corpo, onde os limites entre um e outro se confundem. Em “In” e com grande auxílio do poema “Eu Armário de Mim” e das diversas imagens do mesmo armário, a artista dá margem a diversas interpretações para obra. Tais como: cada pessoa é um armário, pois guarda dentro de si sua verdadeira essência (sentimentos, memórias e opiniões), como se a mente humana fosse um armário, que pode ser organizado de várias formas e ter os mais diversos conteúdos; para manter um status, a pessoa se torna aquilo que veste, sendo ela apenas mais um objeto enquanto sua roupa vira a pessoa que ela realmente seria perante a sociedade.

A obra de Leticia pode ser analisada de uma forma lírica. Assim como não há um limite entre corpo e obra, a divisória entre subjetividade e racionalismo é tênue e relativa.

Impacto, dúvida, medo, introspecção, sentimentos e sensações diversas invadem o espectador e a obra. Mais do que contempladores, cada vida é uma forma de extensão da arte.




Exposição de Letícia Parente - Grupo 4

Letícia Parente enquanto artista é provocante, ousada e uma exposição com seus trabalhos não diferentemente atinge o público. Ao nos colocarmos nesta posição, várias foram as sensações e sentimentos que nos arremeteram.
A arte de Letícia é seu próprio corpo. Sua casa, seu armário, sua poesia: o corpo. Seu corpo tem costurado na sola do pé o lugar de onde veio: “Made in Brasil”. Foi através dessa escritura que Letícia nos expôs sua ousadia de protesto ao período ditatorial ao qual estava imersa. O estrangeirismo no “ser brasileiro”, a afirmação do orgulho nacional baseada em conceitos estadunidenses, o dever de ser marcado como brasileiro apesar das influências culturais de outros países. A obra grita contradição e incomoda, mas apenas por fora, apenas no lado do expectador. Pois a pele não parece sentir a agulha, ela cede calmamente à vontade da mão, como um bom apoio, como qualquer pano de fundo. “Made in” foi a forma utilizada para exprimir a inversão, ora voluntária, ora involuntária, que se fazia entre pessoa e objeto.
Os limites entre a casa e o corpo a sua extensão são explorados ao longo de toda exposição. Em "In", por exemplo, a mulher se guarda no armário como se fosse roupa. Ela encontra dificuldade e desconforto, mas continua mesmo assim, como se fosse uma parte da rotina - outro aspecto muito explorado pela artista -, como se fosse seu dever de roupa. Considerando a obra de Letícia, o ato de se guardar pode ser analisado como uma metáfora de tudo de nós que é guardado em nós mesmos. Dentro do armário de "Eu Armário de Mim", ela escondia e mostrava segundo sua vontade tudo que possuía, física e emocionalmente, aquilo que era ela. Ela objeto, pensamento, opinião, roupas brancas e roupas pretas, luz e trevas, bagunça, notícia, e tudo o mais que cuidadosamente selecionava fotografar ou somente deixar guardado num cabide dentro do armário de si. Fazendo-se roupa Letícia deixou-se ser passada ("Tarefa 1"), deixando para trás os vincos e apagando as marcas que a realidade social a sua volta lhe colocava.
Esse tom de crítica também aparece em “Preparação I”. Referências ao feminismo, à luta da mulher pela inserção na sociedade, são claras. A mulher cobre os olhos e a boca para sair de casa, e cobre como se esse fosse um ato cotidiano, corriqueiro, necessário. Se cega e se cala para poder conviver em meio aos que a eliminam. Ela mesma deve se anular e ignorar a própria anulação para poder sair como os outros. É possível fazer uma reflexão a respeito da obra e a própria maquiagem usada pelas mulheres. Não seria a maquiagem algo machista? Algo que obriga a mulher a se adequar a um padrão de olhos marcados e rostos rosados? Talvez, mas a mulher não enxerga isso. Não enxerga porque, após séculos de repressão, ela aprendeu a, realmente, tapar os olhos sozinha. 
À realidade também se fez necessária a prevenção. A vacinação foi a maneira encontrada por Letícia para, ao mesmo tempo, criticar e prevenir-se de males como colonialismo cultural, racismo e mistificação da arte e da política. Assim ela nos mostrou novamente seu lado corajoso, o da crítica e denúncia, e o temeroso, que a fazia querer manter-se distante e preservada dos mesmos males que denunciava e dos quais queria fugir ilesa. Cobras de duas cabeças representavam o perigo e a incerteza sobre sua volta à terra natal, mas Letícia contornou-as com sapiência e nos fez sentir o mesmo alívio que sentiu ao delas ter conseguido preservar sua essência, seu corpo.
Letícia Parente preservou o corpo, marcou-o e o usou como base e meio para se comunicar com a sociedade, com a ditadura, com cada um de nós. Desta forma, quando o corpo tornou-se arte, a arte o transformou.

Exposição de Leticia Parente - Grupo 9 - "Eu, armário de mim"

                       A imagem é a casa. A primeira sequência apresenta quatro performances que provocam e incomodam o espectador desavisado. A exposição aborda questões que vão do Brasil industrial e urbano e ditatorial da década de 70 à situação precária do nordeste deste mesmo Brasil. Isso, sem deixar de expressar a individualidade da artista e a casa que, para Letícia, é o lado de dentro.
                         Para entendermos melhor a obra da artista, devemos analisar algumas de suas performances, de acordo com os temas fundamentais. O primeiro e o segundo, entitulados "Marca registrada" e "Preparação I", respectivamente, criticam o contexto ditatorial na sociedade brasileira através de atos que representam a censura e a a anulação do indivíduo na esfera política, ao simular novos olhos e bocas para sair de casa.
                         As performances seguintes, "Tarefa I" e "In", por sua vez, nota-se uma crítica à sociedade de consumo, uma vez que a representação do "ser passada a ferro" e o "se pendurar no armário" ilustra a coisificação do indivíduo, que passa a ser que possui.
                          A partir daí, a exposição diversifica seus temas, como em "Preparação II", em que a artista injeta em si vacinas anti colonialismo cultural, anti mistificação política e mitificação da arte, referindo-se ao imperialismo, e o vídeos "Nordeste", no qual uma retirante luta contra os problemas - representados por cobras - trazidos em seu baú na migração.
                          Em suma, todos esses elementos encontrados dentro da casa - que não é a casca, mas o lado de dentro da artista - expressam os problemas da sociedade de seu tempo, onde de fato, o testo se faz imagem e a imagem se faz texto.

Grupo: Paula Fernandes
            Paula Moura
            Miguel Moraes
            Lucas
            Ricardo Godot

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Exposição de Letícia Parente - Grupo 3

A exposição no Oi futuro sobre Letícia Parente é no mínino instigante. A sala composta por instalações nos mostra vídeos produzidos entre 1970 e 1980. Utilizando seu corpo como suporte, Letícia mostrou a todos que arte não deve ser algo elitista, mas simples, alcançável e que dialogue com a vida.

A casa é o corpo, o corpo é a casa.

Letícia reinventa o cotidiano, reconfigura as tarefas domésticas, reflete sobre o papel da mulher, a mistificação da arte, os anos da ditadura e a economia do país.
Considerada um das precursoras da video-arte no Brasil, Letícia representa o papel dessa arte com grande estilo. 

Quem é o artista? Onde fazer arte? Por que fazer arte?

Nenhum de seus trabalhos é apenas ornamental e principalmente no audiovisual todo possui um fundamento, um sentindo e até uma crítica.
Com clareza e leveza, conduz o espectador da sua video-arte a refletir sobre a obra, interagindo-se com ela.

Preparação I
Quando tapa olhos e boca com esparadrapo e desenha novos deles por cima da fita, a artista questiona sobre o papel da mulher. Como se a mulher assumisse o seu papel diante da sociedade, sem se expressar ou questionar. Não vê, mas pinta os olhos, não fala, mas passa batom. Logo depois ela arruma o cabelo, a roupa e sai do banheiro.

Marca registrada
A inscrição Made in Brazil sendo costurada na sola do pé nos mostram vários sentido: a reificação (pessoa em produto), nacionalização, governo opressor, a exportação da arte brasileira. Além disso, a inscrição será a base dela quando pé, acima da qual ela se manterá.

O homem do braço e o braço do homem
Aparece a imagem de um anúncio de uma academia de ginástica de um corpo de homem da cintura para cima, exercitando o braço. O movimento é repetitivo, cronômetrado e eficaz. Em seguida, vê-se um homem da cintura para cima também movimentando o braço da mesma forma. À medida que vai repetindo o gesto ele demonstra cansaço, o homem diferente da maquina sente dor. Percebe-se uma crítica ao culto do corpo, a propaganda que inserem na mente da sociedade um tipo definido de corpo, uma perfeição que todos querem alcançar. 

O comum, a rotina, o cotidiano estão sempre presentes no trabalho dela, seja na hora em que usa o armário para expor vários objetos separadamente (papel amassado, roupa branca, roupa preta, cebolas, sapatos..), seja na hora em ela mesma pendura e tranca-se nele, ou até mesmo quando ela “vira” roupa e a empregada passa o ferro no seu corpo com a calma de quem passa uma roupa de verdade.

Artista é aquele que não somente cria para deleite próprio, como refrigério para alma e mente efervescentes, mas que sabe usar a arte para comunicar, criticar, fazer e pensar.

Letícia Parente, portanto, é uma artista completa. Com sua criatividade, utiliza de diferentes meios e linguagens para relacionar arte e fatos do seu momento histórico - políticos, sociais, econômicos, envolvendo o telespectador com a sua obra.

Exposição de Letícia Parente - Grupo 7

Vida e obra da artista Letícia Parente mostraram-se fortemente interligadas em cada trabalho exposto, este mês, no centro de cultura Oi Futuro, no Flamengo.

Nascida em Salvador, Letícia Parente é reconhecida por sua grande contribuição à vídeo-arte, além de ter sido uma das precursoras desse estilo no Brasil. Sua obra é marcada por cenas intensas, carregadas de críticas políticas e sociais, onde o jogo entre corpo e objeto mostra-se constante. Além disso, seus vídeos têm óptica genuinamente feminina e intimista. O papel de mãe em sua vida revela-se, não como um papel, mas como ela mesma. O âmbito familiar é tema e cenário, e reflexões se dão nos objetos mais banais do cotidiano.

Através da projeção de seu próprio corpo, a artista consegue representar ideias, sentimentos e emoções, raramente se valendo da voz. Em outros trabalhos, Letícia Parente aproveita a participação de amigos e familiares, como em “Telefone sem fio”, em que é mostrada a cena de seus amigos, todos artistas, interagindo descontraidamente na tradicional brincadeira que dá nome ao vídeo.

Dentre os vídeos expostos, “Made in Brasil” destaca-se pela reação que provoca. Costurando as palavras “made in Brasil” no próprio pé, Letícia Parente choca o público e transmite uma mensagem de contestação do regime militar que existia na época.

O poema “A empregada”, interpretação do vídeo “Tarefa 1”:

A preta velha
Passa a roupa
A velha preta
Passa a mulher
Que é a própria roupa
A roupa de todo dia
A sinhá de todo dia
A velha
A sinhá
A roupa
Que é a sinhá.
A preta velha
Passa a mulher
Como se passasse
A roupa.
A roupa pediu vingança
Pela preta
Por si.

Do vídeo “Preparação 1”, obtivemos a seguinte percepção, em versos:

Uma mulher quer ficar
Bonita:
Se maquia
E penteia os cabelos
E adorna olhos e boca
E colore as bochechas

A mulher
de boca e olhos inúteis
Que só quer ser bonita
Anda mascarada.

E a partir do vídeo “In”, fizemos a seguinte interpretação: Ela, a artista, que era seu próprio armário, se guardava, se resguardava dos outros ficando em si, mantendo-se protegida do que pudesse danificá-la, usando-se como o espaço que a continha.

Letícia Parente foi uma das principais responsáveis pelo enriquecimento da vídeo-arte no Brasil. Sua influência perdura até hoje entre diversos artistas contemporâneos.

Exposição de Letícia Parente - Grupo 1


Por Bárbara Souza, Gabriela Pantaleão, Johanna Beringer, Laura Freitas e Luís Felipe Sá.     

    Poemas Visuais. Relaçoes íntimas e, também, universais. Críticas à Ditadura militar brasileira. Durante seus filmes, a artista permeia a sua origem nordestina com todo apelo ao que é de nível familiar e pessoal, até a questão da ideia pseudo-nacionalista promovida pela ditadura. . Letícia Parente retrata  - no sentido mais amplo desse verbo - um momento problemático da política brasileira e outras questões. 

      Em "Preparaçao I", Leticia Parente faz uma crítica a ditadura militar, que atuou de maneira coercitiva em relação à liberdade de expressão e ao acesso as informações.  Quando a personagem bloqueia seus próprios olhos com esparadrapo, ela fica incapaz de enxergar, e assim, fica a margem das informações, dos acontecimentos, das diretrizes politicas, e o mesmo processo se dá quando ela bloqueia a boca, tornando-se incapaz de exprimir qualquer opinião, informação e contato verbal com outras pessoas. Além disso, associado ao ato de bloquear a visão e a fala, ela se pinta, fazendo uma critica feminista, em que a mulher não tem voz e nem tem possibilidade de contato com a informação, mas deve manter sua imagem de beleza, cultivada na sociedade brasileira.

       Já "Preparação II”, Letícia Parente escreve em cartelas o nome de quatro vacinas, em francês: anti-colonialismo, anti-racismo, anti-mistificação da política e anti-mistificação da arte. Depois de escrever cada um dos nomes das vacinas, ela toma as injeções, dando a ideia de que é para se defender desses males (racismo, colonialismo, mistificação da arte e da política), que estão em evidência no contexto político da ditatura brasileira na década de 70/80.

        Em "Marca Registrada", "Tarefa I"e "In" há em comum uma provocação sobre o processo de  coisificação das pessoas. Ao costurar "Made in Brazil" na sola de seu pé, Letícia Parente se compara a um objeto, pois são palavras que costumam estar gravadas em rótulos de embalagens a serem vendidas e consumidas. E vai além; a costura também remete às práticas da cultura nordestina, da qual a artista é representante. Ao ser passada, dentro da roupa, pela empregada doméstica, Letícia está invertendo os papéis, fazendo-se objeto e sendo tratada como tal. Algo semelhante ocorre na obra "In", na qual a artista se pendura, literalmente, em um cabide se guarda no armário.

     Fica claro também o pensamento a respeito do corpo em conflito ( e, simultaneamente, em parceria) com o que há "do lado de dentro". Daí surgem metáforas brilhantes como a apresentada em "Eu amário de mim", que pode ser interpretado de muitas maneiras, dentre elas, como uma questão relativa ao "caber". É notando isso que se percebe a conexão entre os vídeos, e, claro, o mapa da casa, que está exibido logo no início da exposição. Em “O homem do braço, e o braço do homem”, Letícia Parente nos faz refletir também acerca da posição do homem na sociedade, é uma crítica à padronização do corpo e do pensamento masculinos na sociedade moderna. A estética se sobrepõe ao pensamento e à inteligência. A importância do conhecimento e da reflexão intelectual é suprimida pela absorção dos padrões impostos pela futilidade da cultura de massa.

    Letícia Parente foi uma das precursoras da vídeo-arte no Brasil, química e artista nordestina, casada e com cinco filhos, deixou para enriquecer nosso estudo e reflexão diversas obras diferentes, algumas delas citadas anteriormente, e, outras, que infelizmente se perderam com o tempo.

Exposição de Letícia Parente - Grupo 2

Por Rafael Ricardo Meliande Soares, Mariana dos Santos de Andrade,Beatriz da Costa de Sá, Fernanda Assis Carvalho e Guilherme Ramalho de Melo.

  A exposição de Letícia Tarquinio de Souza Parente, no espaço Oi Futuro, proporciona um contato e uma experiência intensa com os principais trabalhos da videoartista. Dessa maneira, nosso grupo optou por discorrer sobre as obras cujas imagens e mensagens transmitidas mais nos impressionaram. São elas: “Marca Registrada” , “Tarefa I” e “Preparação I”.

Marca Registrada

Foto divulgação
     A obra começa com a câmera focada nos pés da artista caminhando. Em seguida, as pernas se cruzam, deixando em destaque, como foco da câmera, a sola do pé. Dessa maneira, com o auxílio de uma agulha e linha de costura, começa a parte clímax do vídeo, com a costura da frase “Made in Brasil” na própria pele de Letícia. A princípio, gera-se um choque momentâneo e um questionamento sobre essa expressão inusitada. No entanto, após analisar todos os elementos da conjuntura da obra, principalmente o contexto em que foi executada, é possível captar a mensagem transmitida.
De início, é importante ressaltar a data do vídeo. Foi gravado em 1975, momento histórico brasileiro marcado pela Ditadura Militar. Esse período é caracterizado pela abertura da economia nacional ao capital e às indústrias estrangeiras, acarretando uma diminuição significativa de indústrias e produtos genuinamente brasileiros. Soma-se a isso, a tentativa dos militares de criar um falso nacionalismo, com uma identidade brasileira cada vez menos brasileira. Nesse contexto, com a entrada desenfreada de produtos e a forte influência da cultura, principalmente, norte-americana em nosso país, Letícia faz esse belíssimo grito de protesto, sintetizado nos 9 minutos de seu vídeo.
Como primeira análise, é fundamental notar o local escolhido por Letícia para se costurar. Ela opta pela sola do pé, ou seja, a base de sustentação de qualquer indivíduo. Por conseguinte, a frase é outro aspecto relevante a ser observado. Significa “feito no Brasil”, porém escrita em inglês, fazendo alusão à influência da cultura estrangeira na nossa cultura. Além disso, a frase sugere um processo de pertencimento e coisificação do homem em relação à terra em que pisa, ao local onde vive.
Desse modo, conclui-se que Letícia queria nos mostrar que se vivia em um país marcado pela falta de uma identidade, inundado por influência de culturas estrangeiras, de forma a sufocar nossa própria cultura, tornado-o estranho a nós mesmos. Com isso, restava de genuinamente brasileiro apenas o corpo dos próprios cidadãos, único elemento resguardado da invasão do estrangeirismo na pátria mãe.


Preparação I


  Ao iniciar o vídeo, a artista posiciona-se em frente ao espelho do banheiro e começa sua preparação para sair. Surpreendendo o espectador, Letícia cobre a boca com um pedaço de esparadrapo e desenha uma boca sobre o mesmo, com o auxílio de um batom. Em seguida, cola um esparadrapo sobre o olho direito, e usando um lápis de olho traça sobre a parte coberta um olho aberto. Realiza o mesmo procedimento no outro olho. Por fim, ainda em frente ao espelho, a artista ajeita o cabelo, pega a bolsa e sai.
Foto divulgação
O ato de se maquiar para sair não passa de uma ação cotidiana simples para uma mulher, mas nesse vídeo a artista o faz não do modo convencional. Após analisar a obra percebemos que ocultando boca e olhos e desenhando substitutos, Letícia reproduz o vestir de uma máscara. Por conseguinte, entende-se que na verdade ela não se prepara apenas para sair de casa, mas principalmente para encarar a sociedade. O uso da maquiagem que supostamente deveria evidenciar a beleza feminina, foi usada para mascarar a mulher. A boca silenciada e os olhos vendados simbolizam o contexto político-social da época.
Produzido em 1975, o vídeo ilustra a maneira como as mulheres tinham que se portar em meio à ditadura militar, regime regente de 1964 a 1985. Sob o governo dos militares, esse foi um dos períodos mais conturbados da história do Brasil, marcado pela desorganização, falta de democracia, supressão de direitos, perseguição política e repressão aos movimentos de oposição ao regime. A liberdade de expressão era quase inexistente; havia muita censura aos meios de comunicação e aos artistas. Métodos violentos, tortura, prisão e exílio, eram usados contra quem se opusesse.
Nesse contexto, fica claro que a censura à fala e até mesmo à lucidez obrigava as mulheres a vestirem máscaras que as calassem e vendassem para sair além dos limites de suas casas. Desse modo, o rosto postiço serve para evitar a liberdade de expressão, principalmente a feminina. Letícia - aqui representando a mulher brasileira - não pode enxergar da forma que quer, nem falar o que pensa. Ela se prepara para agir da maneira como a sociedade espera que ela aja.
A obra, que conta com três minutos e meio, é uma tentativa de transgredir as tiranias da época, por meio da arte. Através dela, Letícia expõe a compreensão que se fazia da posição da mulher na sociedade, em um período de submissão aos códigos sociais. É a reificação do corpo feminino. Ao final, muda e cega, a identidade feminina se perde. Só a partir desse momento lhe é permitido sair de casa, sob a vigilância da sociedade, representando o papel que lhe foi destinado.


Tarefa I

  A casa, o corpo e a arte. Em Tarefa I, Letícia se deita vestida em uma tábua de passar roupa diante da sua empregada doméstica que tranquilamente passa a ferro a patroa. O rosto da serviçal não aparece, apenas seu movimento habitual, contínuo e repetido, sobre uma situação inabitual, fora do comum. Aquilo que transmite ser uma tarefa corriqueira, refaz os paradigmas entre patroa e empregada e entre roupa e corpo. Muitas vezes, esses elementos se confundem, elucidando os contrastes e a beleza da obra. De início, Letícia e a roupa parecem se tornar uma coisa só. No trato com a empregada doméstica, ambas – anteriormente distintas – não fazem diferença separadas ou juntas. O relacionamento empregada-patroa, nesse caso, não vai além da passagem de roupa, como se não houvesse importância de Letícia estar dentro ou fora dela. A cumplicidade no relacionamento se mistura com a quietude da artista que permanece estática como uma roupa qualquer.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Exposição de Letícia Parente - Grupo 6

Por Grupo 6 (Ana Ariel Menezes, Andressa Guerra, Gabriel Jacome e Raphaella Arrais)

A exposição de Letícia Parente no Oi Futuro do Flamengo é marcada pela predominância das obras em vídeo da artista. Exceto pelo trabalho em xérox no painel de entrada e da projeção do conjunto de fotos do armário, quem rouba a cena são os vídeos dispostos telas de plasma e em projeções nas paredes do quarto andar do prédio.

Letícia Parente: resgate e refúgio.

A espacialização do vídeo torna-o instalação que interfere no espaço provocando uma ampliação do sentido da obra de arte, a serialização das projeções apresenta a união entre casa e corpo onde os serviços domésticos são uma forma de expressar seus pensamentos, como do intimo ao geral, da dimensão da sua casa ela mostra o mundo e o que pensa sobre ele.

Nordeste

No vídeo Letícia trás uma bagagem emocional do seu passado nordestino, evidenciada no vestido que ela usa e no tipo de mala de couro que ela carrega. Ao tentar se livrar das cobras para resgatar o lençol branco ela simboliza a tentativa de fuga dos cárceres sociais ali representados pelas cobras de duas cabeças, que tem por característica confundir a presa se movimentando de forma que não se identifica por onde ela vai atacar, isto amplia a angústia dela ao tentar resgatar o lençol branco símbolo da sua infância/inocência deixada para trás no fundo da mala e cercada de sofrimento. Esse resgate é muito sacrificante para ela desde o carregar da mala, ao local escolhido para realizar o procedimento - quintal da casa - ou seja ela sai do seu ambiente, sua realidade, sua casa, para revirar o seu passado mexendo em feridas não cicatrizadas e ao conseguir pegar o lençol branco ela se emociona e o abraça com uma paixão nostálgica reforçando os sentimentos de resgate. A musica surge como uma narrativa que remete as suas memórias sendo observada nesse vídeo uma representação das suas vivencias.

Armário de mim

O armário de Letícia Parente é uma referência a nós mesmos. O armário guarda tudo, nada, é escuro, é claro, é vazio, é ordem, é bagunça, o armário nos protege é o nosso íntimo é quando olhamos pra dentro e fugimos da realidade. Lá podemos nos esconder e sentir plenamente, é onde a liberdade e a paz são guardadas e desse paradoxo é construído o armário no qual a própria artista sente a necessidade de se guardar. “Eu armário de mim” diz o poema o armário é o que você trás e o que você guarda, é o que lhe guarda.

Preparação 1

Nesse vídeo Letícia personifica, através dos esparadrapos fixados em sua boca e olhos, o que era imposto à sociedade na época: o silêncio e o “fechar de olhos”. Produzida durante a Ditadura Militar, a obra evidencia a repressão do governo que comprometia a liberdade de expressão já que, para sair na rua, era necessário vestir essa “máscara”.
Existe, ainda, uma ligação com a repressão da sociedade à mulher. Na época, os movimentos feministas estavam ganhando força em oposição ao histórico cultural de séculos de comportamento machista. Assim, os esparadrapos também podem representar protesto à submissão que era imposta ao sexo feminino.

Made In Brazil

Ainda no contexto de Ditadura Militar, o vídeo é produzido como forma de protesto à influência estrangeira no Brasil já que, na época, o país vivia uma grande abertura econômica para o capital externo. Assim, Letícia costura as palavras ‘’Made in”, típicas de objetos industriais que na época eram massivamente importados, em seu próprio corpo mudando o local para o Brasil.

Grupo 9

Lucas Berlanza
Miguel Moraes
Paula Fernandes
Paula Moura
Ricardo Godot

Grupo 8

Igor Leite Araújo
Lucas Sauer
Lucas Vilela
Rafael

Grupo 7

Ana Luiza Rigueto
Caroline Ladvocat
Gabriela Fadel

Grupo 6

Ana Ariel Menezes
Andressa Guerra
Gabriel Jacome
Raphaella Arrais

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Grupo 5

Analice Paron
Déborah Azevedo Coutinho
Gustavo Pereira Natario
Letícia Monteiro Rodrigues
Lorena Moura

Grupo 4

Anna Frangipani
Clara Leitão
Laura Barbosa
Marcelle Felix
Nicole Furtado

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Grupo 3

Ana Flávia Oliveira
Julia Meneses
Marina Lemos
Naiara Azevedo
Nathalia Tourinho

Grupo 2

Beatriz da Costa de Sá
Fernanda Assis Carvalho
Guilherme Ramalho de Melo
Mariana dos Santos de Andrade
Rafael Ricardo Meliande Soares

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Grupo 1

Bárbara Souza
Gabriela Pantaleão
Johanna Beringer
Laura Freitas
Luís Felipe Sá