terça-feira, 27 de setembro de 2011

Exposição "Atos de Fala" - Grupo 1

    A exposição "Atos de Fala", que foi exibida no Oi Futuro de Ipanema, mostrava três vídeos-ensaios (se trata de um modelo diferente de vídeo-arte) com propostas distintas e sem conexão entre sim. Esta falta de ligação entre as obras é um dos primeiros aspectos que consideraremos como um defeito no nosso texto.

    O ponto forte dessa exposição, talvez o único, é o caráter subjetivo dos trabalhos, o que não é representado apenas de maneira usual, como no conteúdo dos vídeos, por exemplo, mas também em suas formas. Isso quer dizer que é mais relevante nesse caso observarmos o "como" do que o "porquê".

    O conceito de arte como fala é cunhado pelo linguista inglês John Austin, que dizia que a fala em si, o discurso, que tem sua importância em algo além das palavras. Para Austin, o ato de fala ocorre com tudo que se move a partir do discurso, tudo que sofre a ação do discurso. Nos vídeos-ensaio esse novo conceito fica evidente, pois a mensagem (quando há de fato mensagem) do artista é transmitida através de seus movimentos em cena atrelados à linguagem.

Agir é falar e falar também é agir.

Uma espécie de dança contemporânea é usada pela artista Denise Stutz para homenagear sua mãe, que tem doença de Alzeheimer. Os cortes feitos no vídeo "Até que você me esqueça" - título bastante sugestivo para fazer tributo a alguém com mal de Alzeheimer - durante a edição funciona como metáfora da mente de sua mãe, fragmentada, com ideias soltas desconexas.

    "O deus no arroz doce" é composto por fotos e  trechos de vídeos da família de seu realizador. A dinamicidade da edição passa a sensação do tempo, representando as gerações. Atividades rotineiras das crianças e depoimentos dos avós ilustram bem a intenção do autor, que questiona o que é a felicidade de uma forma bastante original e resgatando o valor o da sua família.


    O terceiro e polêmico vídeo, "Sortilégio", de Milena Travassos, é construído num quarto escuro e misterioso, onde é possível observar alguns objetos curiosos. Garrafas de vidro grandes e com formatos estranhos, segundo a visão da artista, dão um ar de laboratório àquela situação. A partir do vídeo e reforçado pelo discurso de Milena Travassos, percebemos que não há de fato nenhuma ideia inicial nessa obra, o que deixa uma sensação de vazio angustiante no espectador que não entende a essência do vídeo simplesmente por não haver nada para ser entendido, tendo visto que nem a própria "idealizadora" - destaque para as aspas - compreende a sua intenção (ou a falta de). 
     O vídeo-ensaio não conseguiu provocar nenhuma reflexão a não ser essa, que se trata do questionamento sobre o que pode ser considerado arte. Vimos também que a utilização do poema "A Lua ", de Walter Benjamin, foi obra do acaso , pois a artista só pensou em usar o poema - que nem é dela - após ver o vídeo pronto e perceber que havia um espelho redondo no ambiente e que isso parecia a lua (?), sendo que o espelho também não foi posicionado ali com essa intenção. Se não existia o conceito de "arte acidental", pode ser que ele está sendo construído nesse caminho...



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