Arte e fala estão além de suas próprias definições, constituem uma relação importante entre si. A fim de exteriorar essa relação, foi criado o evento Atos de Fala, que englobou palestras-intervenções, esculturas-arquivos e vídeos-ensaios, no Centro Cultural Oi Futuro Ipanema. Dentre os artistas presentes, Milena Travassos nos recebeu para apresentar “Sortilégio”, sua obra de vídeo-ensaio exposta no evento.
O vídeo inicia com a própria Milena sentada no chão de um cômodo que aparenta ser seu quarto, composto por espelhos, objetos pessoais e jarros de diferentes formatos cheios de água ou vinho. Ela começa, então, uma espécie de ritual, bebendo e derramando em si mesma a água dos jarros e colocando-os vazios em sua volta, no chão. Por fim, ajoelhada, bebe o vinho contido em um dos jarros, e também o faz derramar sobre sua cabeça. Feito o ritual, levanta-se e deixa o aposento enquanto declama um fragmento do poema “A Lua”, de Walter Benjamin
A atuação, ela explica, não foi totalmente premeditada e abriu-se espaço para o improviso de detalhes. O vídeo, por sua vez, foi gravado em apenas uma tomada, não havendo, portanto, nenhum corte na filmagem. Quanto à posição da câmera e a disposição de alguns objetos, foram pensadas com o objetivo de provocar uma sensação de certa intimidade ao expectador.
Milena esclarece a razão do vídeo se chamar “Sortilégio”. A palavra tem origem do latim sortilegium, sortis (“sorte”) e legium (“leitura"), e remonta à tradicional leitura de sorte por sacerdotes e feiticeiros. A palavra traduz a ideia de mistificação e simbolismo e caracteriza, nesse sentido, o ritual retratado no vídeo.
Atos de fala teve como objetivo promover uma reflexão sobre os discursos e seus formatos, contextualizando-os com a arte. Diversas obras foram expostas com esse objetivo e particularmente a de Milena Travassos mostrou como a sucessão de gestos e suas particularidades compõem um formato de discurso, um ato de fala.
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