quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Exposição "Atos de Fala" - Grupo 4


A exposição Atos de fala, visitada no Espaço Oi Futuro Ipanema, mostra uma relação fala-mundo, onde nem toda fala é descrição, mas um agir. Onde está o sentido da fala? Coube a nós, através dos três vídeos expostos, encontrar a resposta adequada ou pelo menos refletir sobre as obras e darmos, nós mesmos, o sentido que nos parecer apropriado.

"Até Que Você Me Esqueça" - Denise Stutz
O vídeo mostra uma mulher dançando e a imagem, com o passar do tempo, vai embranquecendo. Apresenta também uma voz ao fundo, como se houvesse uma espécie de narradora, que fala sobre a saudade como um sentimento constante em sua vida.
Tivemos a oportunidade de saber, durante a exposição, que o vídeo era dedicado à mãe da artista, que sofre de Mal de Alzheimer. Essa informação adicional trouxe à obra uma interpretação mais rica, porque deu sentido maior à saudade mencionada e também à imagem que clareia até ficar branca, representando o esquecimento das lembranças da vida.
"O Deus No Arroz Doce." - Henrique Dias
Há a lenda da terra sem males. Diz que o povo guarani tinha como objetivo encontrar a terra onde só haveria felicidade e fartura. Procuravam-na incessantemente. Em algum lugar, por vezes, pensavam ter achado finalmente, mas o profeta dizia que não, aquela ainda não era a terra sem males. Mandava, então, um grupo de jovens atrás da verdadeira terra puramente de coisas boas. Chegando a outro lugar, achavam ter conseguido, mas novamente um guia espiritual dizia que não e outro grupo era mandado para explorar e conquistar a terra sem males. Assim, os guaranis se espalharam por todo o continente sul-americano.
A história é contada na voz do avô, com jeito de quem fala com o neto antes de dormir. Família é o conceito mais explorado nessa obra. O casal de senhores contando sua história (que é também uma busca pela terra sem males), as filhas pequenas tomando banho, a pergunta inocente, as imagens despretensiosas, o arroz doce feito em casa: detalhes de um cotidiano construído por amor e ternura. 
"Vó, Deus tá nesse arroz doce?" E a resposta vem com o gosto bom de família. Deus está nas coisas boas. Em um vídeo que nos dá vontade de procurar pela terra sem males, por exemplo, ou melhor, que nos mostra que a convivência familiar e os sentimentos ternos que vêm com ela são, de fato, o lugar de felicidade que buscavam os guaranis.

"Sortilégio" - Milena Travassos
"Sortilégio" ganha um lado íntimo pelo fato de ser pensado especialmente para acontecer no quarto de Milena Travassos, lugar onde ela guarda suas emoções, alegrias, tristezas, pensamentos: é seu refúgio. Tendo a autora afirmado que aquela performance fora planejada para aquele ambiente - que talvez não funcionasse fora dele - e que os vidros representam para ela uma experimentação, pois remetem a um laboratório, o quarto é o lugar perfeito, pois é nele, tendo os espelhos como testemunhas, que uma mulher experimenta novas feições, novos estilos, novos modos de ser. Num quarto, como em um laboratório, se dão transformações e mudanças.
O ritual de bebida e banho com água e vinho exterioriza seu lado místico e seu universo encantado, o sortilégio de Milena. A filmagem é feita sem cortes, o que mostra que a preocupação maior não está na perfeição, mas no registro de cada sensação.
Ao final do vídeo é recitado um trecho do poema "A Lua", de Walter Benjamin, pensado pela artista após assistir o vídeo e ao perceber que um dos espelhos na parede, redondo, nada refletia além da parede à sua frente, o que deu o aspecto lunar a ele. O poema ter sido acrescentado após a finalização do filmagem reflete a continuidade da obra, que não tem um fim decretado e pode, talvez, sofrer ainda mais alterações de acordo com a visão do espectador sobre ela.
O vídeo de Milena, como ela mesmo declarou, não tinha propósito especial, foi pensado para aquela exposição. Assim, cabe ao espectador atribuir sentido a ele, da mesma forma que a artista o fez, ao perceber o tom e o ritmo durante a gravação, de forma instintiva. Uma obra mais corporal do que qualquer outra coisa. É possível entendê-la como um culto ao corpo e às sensações. Tendo também a própria autora definido aquele ritual como uma espécie de batismo, que numa conotação religiosa representa um novo nascimento, podemos associar que ali, naquele ambiente de experimentação, alguém experimenta nascer de novo, quem sabe recomeçar do zero e, talvez, mudar da água para o vinho.

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