sábado, 3 de setembro de 2011

Exposição de Letícia Parente - Grupo 8 - Letícia Parente e o Objeto Corpo

Dentre os diversos temas tratados em toda a obra de Letícia Parente, como ditadura militar, nacionalismo, feminismo, origem nordestina e desmistificação da arte, há um fenômeno que é de comum ocorrência a grande parte dos vídeos: a transformação do corpo humano em objeto. Ou será o objeto que se torna humano?

Nos vídeos “Tarefa I” e “In”, onde Letícia respectivamente é posta por sua empregada para ser passada junto com a roupa e se pendura com um cabide dentro do armário, a ideia de unidade entre objeto e pessoa, casa e corpo acontece pela força que o cotidiano doméstico exerce sobre o indivíduo. Pela repetição não há mais distinção entre a peça de roupa e a pessoa que a veste. Por isso a artista se coloca no lugar no objeto, é passada e se pendura no armário.

Em ‘identidade’ e ‘Preparação I’, além de resgatar uma tradição nordestina, representada pela costura, podemos identificar pensamentos críticos em relação ao governo militar, colonialismo cultural e o papel da mulher da sociedade. No primeiro vídeo, o corpo é tanto um elemento de um trabalho artesanal, na ação da costura, quanto um produto industrializado, quando a frase ‘made in brazil’ é escrita na sola do pé de Letícia por ela mesma.  No segundo, a relação de transformação do corpo em coisa não viva pode ser vista pelo fato que de no lugar dos olhos e da boca são colocadas fitas de papel com desenhos representativos desses órgãos, mas que, no caso da boca, não serve para falar, e dos olhos, não servem para ver.

Em outros dois vídeos podemos perceber essa atuação do corpo num papel de objeto. Os títulos ajudam a entender essa relação.  Em ‘O Homem do Braço e o Braço do Homem’, uma figura masculina exercita o braço de maneira mecânica, passando a ideia de um instrumento robotizado que é programado para exercer somente uma função. No vídeo ‘especular’, a fala de cada um dos dois personagens é refletida no outro.  Em dado momento podemos ouvir o seguinte: "do que você está ouvindo de mim do que eu estou ouvindo de você do que você está ouvindo de mim do que eu estou ouvindo de você".
  A sensação de reflexão, de espelho fica evidente com essa repetição dos termos “de mim” e “de você”.  Esse vídeo é para ser  visto e ouvido.

Essa unidade entre objeto e corpo pode ser relacionada com a tentativa de Letícia Parente de desmistificar a arte, tirá-la de uma posição de contemplação e trazê-la para perto das pessoas, onde estejam no mesmo plano que ela, possam senti-la, unir-se a ela.

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