quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Bandido da Luz Vermelha - Grupo 4

O filme, "O Bandido da Luz Vermelha", produzido em 1968, de Rogério Sganzerla, se destaca como ousadamente experimental, e entrou para a história como o maior representante do então chamado "Cinema Marginal" - rótulo atribuído às obras dos cineastas da "Boca do Lixo" de São Paulo, filmes pobres, que questionavam toda uma política cinematográfica e seu modelo padrão.
O personagem principal é João Acácio Pereira da Costa, um assaltante de casas de São Paulo que pratica seus crimes, sempre usando uma lanterna vermelha, e consegue majestosamente escapar da polícia, que por sua vez mostra-se fálida, já que todos os seus procedimentos de captura e combate ao crime são contornados por um único bandido. É através desse enredo que a característica de crítica à política do cinema marginal se desenvolve no filme. A saga “polícia e ladrão” é uma caricatura ao sistema da época, ineficiente. Há ainda outro personagem, o político corrupto J.B. da Silva, que subordinado ao alto escalão não exerce suas funções segundo as necessidades, mas segundo seus interesses, o que caracteriza essa mesma crítica à corrupção política.
Há ainda as críticas ao sistema educacional e a desvalorização da mulher. A primeira é feita através das mensagens e escritos do bandido, com claros erros de grafia, que por um lado podem denotar marca pessoal, mas também revelam uma situação onde a educação básica não é eficaz. A desvalorização da mulher aparece com as participações dos personagens femininos, frágeis e com o objetivo maior de ser símbolo de prazer e satisfazer necessidades sexuais. João Acácio fazia questão de manter relações sexuais com as mulheres que roubava, com as quais tinha longas conversas.
O filme também traz o humor do cinema marginal nas muitas cenas irônicas onde o bandido zomba da ineficácia policial, a qual, mesmo muito perto dele, não consegue capturá-lo. No final do filme, João enrosca a cabeça e o torso em fios elétricos e, pisando numa grande chave elétrica, morre eletrocutado. Quando o delegado se aproxima do cadáver, pisa na mesma chave, vindo a morrer abraçado ao bandido, os dois frutos de uma mesma árvore, do mesmo sistema social falido e corrupto.
Rogério Sganzerla inaugurou uma nova vertente do cinema brasileiro no tempo dos anos de chumbo da ditadura militar, preservando a ironia e o deboche, palavras chave para o Cinema Marginal, cujo lema poderia ser a célebre frase do bandido da luz vermelha: "Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha e se esculhamba."

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