segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Bandido da Luz Vermelha - Grupo 1

Por Bárbara Souza, Gabriela Pantaleão, Johanna Beringer, Laura Freitas e Luís Felipe Sá. 





O Bandido da Luz Vermelha é um filme dirigido por Rogério Sganzerla, um dos diretores dos anos 60/70 que seguiam a vertente do cinema marginal. Este, chamado assim, por fugir às normas comuns dos cinemas de consumo fácil, marginalizado pelos circuitos e pela censura. Dentre raras exceções encontra-se o filme de Sganzerla, por ter conseguido ser veiculado, já que possuía alto caráter crítico à situação brasileira do contexto histórico da época - na qual o poder de repressão do Estado não parava de crescer.

De gênero policial, o filme gira em torno da rotina de um bandido, desequilibrado mentalmente, que comete seus crimes de maneira peculiar: usando sempre uma lanterna vermelha (os espectadores só sabem de sua cor pelo título, já que o enredo se passa em preto e branco), João Acácio (o bandido) invade as moradias de suas vítimas, mantém diálogos extensos e talvez inúteis, as estupra (se forem mulheres), rouba suas jóias e pertences de valores para gastar depois de maneira um tanto quanto questionável.

O bandido possui crises existenciais perguntando-se “Quem sou eu?” e dizendo que já tentou se matar várias vezes. Ele picha muros com provocações à polícia, e talvez como uma maneira de libertar-se. Tem atitudes consideradas anormais, como beber tinta e pintar todo seu espelho de espuma de barbear. O bandido encontra-se em vários monólogos ou quase-monólogos em que descreve sua vida, pensamentos e opiniões – que, em algumas situações, ajudam a confirma a sua insanidade mental.



O filme retrata uma cidade de São Paulo sombria e suja, poluída pelo caos originado pelo crime e corrupção, pelo estupro, pela violência e prostituição. Todas as notícias e trajetória de João Acácio são narradas por um casal de interlocutores, que carregam no tom debochado de narração policial sensacionalista, usando expressões e adjetivos, numa forma de divulgação dos fatos totalmente subjetiva e tendenciosa. 

Um dos personagens mais marcantes é o Secretário (que todos chamam de ministro). Percebe-se que é um personagem caricato dos governantes, retratando um político corrupto, com promessas ridículas. Nota-se a forte ironia representada por seu personagem quando ele se refere ao seu programa de governo, exaltando sua própria figura e prometendo coisas do tipo: “E os pobres enfim vão mastigar, vou distribuir chiclete para os pobres, para que eles mastiguem noite e dia.” Tais situações reforçam o grande caráter crítico do filme, que reclamava a situação político-social brasileira do período histórico em que se passava.




Em relação aos caracteres técnicos, é notável a preferência pelo estilo sombrio, valorizando mais a escuridão e as sombras, e certo experimentalismo na forma com que são levadas as filmagens, com movimentos bruscos e angulações que não seguem o padrão do cinema tradicional. A ruptura com os padrões tradicionais também ocorre nas formas de narração e estéticas. O enredo valoriza os gritos aterrorizados e estridentes, que são como planos de fundo, representando um universo de desespero, agonizante. Também podemos reparar problemas com a narração, em que a dublagem não coincidia com os movimentos da boca, além de ser impossível de se decifrar o que os personagens falavam diversas vezes.

Em suma, apesar de problemas de entendimento em algumas ocasiões, o filme, para a época (e até hoje), pode ser visto como inovador, de grande caráter crítico e que rompe com as formas tradicionais de se produzir e pensar um filme. O Bandido da Luz Vermelha, além de retratar a realidade brasileira através da rotina do João Acácio e das notícias dos locutores de rádio, individualiza, principalmente, seu personagem principal, tirando do clichê a ideia de bandido, descrevendo toda sua a complexidade mental e problemas pessoais –  compartilhando, também, o desencantamento com a realidade – principal característica dos filmes marginais.


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