sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Bandido da Luz Vermelha - Grupo 2

 
           Um filme experimentalista, que abre portas para o cinema marginal, O Bandido da luz Vermelha, escrito e dirigido por Rogério Sganzerla escandaliza, expõe e critica a sociedade. Lançado em 1968, época de ditadura no Brasil, o filme escapa da censura e com o sua personagem principal, mostra a falha do sistema público da época com cenas de ironia e deboche das instituições.
         João Acácio Pereira da Costa é um assaltante, que utiliza de uma lanterna de luz vermelha para praticar seus crimes. Além de roubar as suas vítimas, cria uma relação com elas. Não apenas sexual, mas ele conversa com essas mulheres. Esse é o primeiro papel das mulheres na sua vida. Eles as usa. O segundo e de grande importância cabe a Janete Jane, uma prostituta que é capaz de mostrar o lado mais humano do bandido, e tirá-lo , ainda que pouco, da sua rotina de sangue.
      Uma dupla de locutores de rádio, “narram” as aventuras do Bandido durante boa parte da história. No decorrer do filme, estes narradores criticam a mídia sensacionalista, que criava falsas histórias, e ao mesmo tempo, ao demostrar medo, curiosidade e talvez até certa admiração à  esperteza do protagonista, colocam-se no papel de “consciência” da alta sociedade.
       Uma das principais instituições criticadas é a polícia. Nosso anti-herói consegue escapar a cada crime cometido. Sua habilidade confunde os policiais mais experientes. Para o aumentar sarcasmo, a cada “vitória”, uma comemoração extravagante. As fugas e as extravagância mostravam a ineficiência da polícia. Como um bandido tão visado pode escapar tantas vezes?
        Outra crítica presente no filme é a falha no sistema educacional e na imobilidade social. O bandido deixa frases com erros gramaticais. Nesse ato podemos ver 3 críticas sendo construídas. 
1. Os erros nas mensagens que podem ser considerados como ignorância - e aí vemos a falha da educação no Brasil;
2. Eles também podem ser vistos como uma marca do bandido. Deixar marcas o faz ainda mais caricato e visado e por estar tão exposto seria ainda mais fácil de capturá-lo. Como isso não acontece, passa mais uma vez a ideia de ineficácia da instituição de executar o seu dever.
3. A terceira crítica é decorrente da primeira. Com um sistema educacional ineficiente, não é possível ascender socialmente através do estudo, e consequentemente do trabalho. Assim, ele é levado para a vida de crime.
A crítica à dificuldade de ascensão na vida se mostra na frase da própria personagem "da vida  não quero nada, antigamente eu queria ser grande (...) grande sei lá pra que, queria ser famoso (...) hoje eu sei que sou um coitado, não sou nada".
      Durante o decorrer do filme, o Bandido percorre vários espaços diferentes, relacionando-se com prostitutas e marginais, políticos corruptos e policiais "ineficazes". Assim, o Bandido promove  as suas ações: rouba residências, e gasta o dinheiro de forma extravagante; se envolve com prostitutas, mulheres solteiras e casadas; atira aleatoriamente e mata.
      Com sua ousadia, Sganzerla abre mais os horizontes da arte. Seu filme surge como alternativa para a falta de recursos e de estrutura. Nada mais surpreendente do que uma película de tamanho alcance de significado, realizada tão somente de retalhos de história. Mas do que é feito o cinema, se não da arte de montar? E Rogério o faz muito bem. O cinema feito por ele chega com a inovação de descontinuidade. Uma série de fatores e situações que se sobrepõem formando instabilidades e até ambiguidade por vezes; mas que controem ao mesmo tempo uma surpreendente metáfora da vida real.
        Embora inspirado em fatos reais (existiu e foi famoso, um bandido que assaltava as pessoas usando uma lanterna com luz vermelha), o diretor não se apegou demais aos fatos verídicos; eles apenas serviram de base para a produção do filme, que representou muitíssimo bem a São Paulo da época, e tornou-se o maior representante do cinema marginal.

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