sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Bandido da Luz Vermelha - Grupo 3 - “Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha”

Um dos filmes mais importantes do Cinema Marginal, 'O Bandido da Luz Vermelha' (1968) é inspirado na história do criminoso João Acácio Pereira da Costa, acusado de inúmeros crimes na cidade de São Paulo.
No filme, ele é Jorge, vivido por Paulo Villaça. Jorge assalta casas e, na maioria das vezes, abusa sexualmente das mulheres que ali se encontram, casadas ou solteiras. Ele é um verdadeiro anti-herói, e tem consciência dessa sua condição. Podemos constatar tal fato em uma cena em que ele se menospreza, falando que é um coitado. Seus dilemas internos são explicitados por um monólogo durante todo o filme. E isso nos permite acompanhar seu desespero, sua desestrutura moral e seu fim.

No desenrolar do enredo, vemos ainda Jorge em um relacionamento amoroso com Janete Jane, uma prostituta. Essa parte do filme mostra o lado mais íntimo do bandido, e interrompe as cenas de sangue constantes. Mas a história de amor não tem final feliz... Por vingança, Janete - interpretada pela esposa do diretor, Helena Ignez -, depois de ser mandada embora de sua vida, o entrega à polícia. Essa mesma polícia - tendo destaque o delegado Cabeção, que chega sempre atrasado à cena do crime -, é constantemente ridicularizada pelo bandido, que sempre consegue escapar.
Há uma cena característica, na qual o protagonista finge ser atingido por uma bala disparada contra ele e ri dos policiais. Logo depois, somos encaminhados para o fim; Jorge está pronto para encerrar a carreira. Ele se envolve em fios, pisa numa chave elétrica e morre.
Como a ironia exerce importante papel no Cinema Marginal, vemos o delegado também pisar na chave, morrendo ao lado do bandido.

Rogério Sganzerla, diretor dessa obra-prima do cinema brasileiro, com sua ironia e linguagem irreverente, mostra sem escrúpulos a realidade social e política do Brasil dos anos 60/70: o cangaceirismo político, a violência das grandes cidades e a mídia sensacionalista. Era o Cinema Marginal em ação. Com pouco recurso financeiro, muita censura e dificuldade no mercado de exibição - ainda assim - exerceu um importante papel para o cinema nacional.
Enquanto o ativismo político tomava lugar central nas discussões e obras dos cinemanovistas, os marginais se caracterizaram por este rompimento intelectual. Livres de seguir valores éticos da sociedade - lançando mão do escárnio, do profano e do erotismo que circundavam suas obras -, os cineastas do Cinema Marginal tentavam retratar a verdadeira realidade social e cultural do Brasil com humor e um deboche herdado das Chanchadas.
Também nota-se o uso de uma linguagem cinematográfica próxima às histórias em quadrinhos. Dois radialistas que comentam as peripécias da personagem principal, nos remetem às narrações policiais sensacionalistas da época.

"Um bandido pé de chinelo, deslumbrado com o sucesso nas manchetes, saído de Froyd ou da boca do lixo".

Sendo, não a personagem, mas o Cinema Marginal proveniente da Boca do Lixo paulista, muitos foram os que rejeitaram sua visão e obras. 'O Bandido da Luz Vermelha', longe de ser descartado e ignorado, driblou a censura dos "anos de chumbo", ganhou prêmios e se consagrou como uma importante obra cinematográfica, pondo o Cinema Marginal um pouco menos à margem - do cinema brasileiro, do público e da crítica.

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